domingo, 16 de janeiro de 2011

Temer, o equilibrista

Como o vice-presidente sobrevive em meio a um fogo cruzado entre as pressões de seu partido por cargos e a decisão da presidente Dilma Rousseff de não se curvar ao apetite do PMDB


Nas duas últimas semanas em que despachou no Palácio do Jaburu, em Brasília, Michel Temer viveu uma experiência inusitada em seus 27 anos de vida pública. Acostumado ao papel de “interlocutor” entre base aliada e governo, ele especializou-se em lidar com pressões partidárias que repassava – devidamente empacotadas e bem coloridas – à Presidência da República. Agora é diferente. Temer não pode exibir a velha desenvoltura porque tem que se equilibrar entre dois papéis: o de vice-presidente, a quem cabe defender os interesses do governo, e o de principal comandante do PMDB, embora esteja licenciado da presidência da legenda. Não tem sido um malabarismo simples. Com agenda cheia, algumas vezes ele vem cumprindo um expediente mais atribulado que o da própria presidente Dilma Rousseff. Houve dias nesta semana em que, entre telefonemas e audiências, Temer conversou com mais de 30 políticos.

Quando o assunto é a disputa de seu partido por cargos no governo, os papéis de Temer tendem a se fundir em um só. Ele tem sido fortemente pressionado a atender a banda fisiológica da legenda e dá vazão a estes movimentos. Parlamentares do PMDB admitem que é impossível para Temer manter a liturgia do cargo de vice nesse período de divisão de espaços no governo. “Não tem como esse assunto não passar pelo Temer. Ele é o expoente maior da legenda”, diz o presidente interino do PMDB, senador Valdir Raupp (RO). “Só depois dessa fase de nomeações vai dar para o Temer desempenhar um papel mais de estadista”, acredita.

Discreto, Temer prefere não polemizar. “Atuo como vice-presidente da República, pois estou defendendo a estabilidade do governo”, diz. Na prática, não é bem assim. O deputado Eduardo Cunha (RJ) é quem mais tem pressionado o vice-presidente por cargos. Cunha não abre mão do controle de Furnas e de alguns nacos dos fundos de pensão. Mas ele nega que esteja empurrando decisões e diz confiar no vice-presidente como um homem do PMDB. “Confiamos na interlocução do Temer, ele é o melhor quadro do nosso partido”, diz Cunha. “Não pressiono ninguém. Não se falou em Furnas ainda. Mas é a bancada do Rio que detém o espaço, não sou eu, o Eduardo Cunha”, embaralha o deputado.



O governo Dilma já ligou o sinal vermelho de alerta para não ter problemas mais adiante. Segundo um senador do PMDB, Dilma chegou a alertar Temer: “Afaste-se de Cunha, cuidado com esse rapaz”, teria dito a presidente. Além de Furnas, o parlamentar do PMDB carioca trabalha nos bastidores para conseguir uma vaga para o ex-ministro das Comunicações Hélio Costa. Mas justamente por ter se transformado em cota de Cunha, cuja imagem está prejudicada no Planalto, Hélio Costa pode ficar de mãos abanando. “O ex-ministro é um quadro do PMDB, teve muito voto e merece uma representatividade partidária”, insiste Cunha.

Outro que tem insistido diariamente com Temer sobre a nomeação de cargos na máquina administrativa federal é o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Ele quer o controle do Dnocs e da Funasa, onde as auditorias mostraram várias irregularidades durante a gestão do deputado Danilo Fortes (PMDB-CE). Na terça-feira 11, foi preciso que Valdir Raupp e o senador Renan Calheiros (AL) saíssem em defesa de Henrique numa audiência com Temer, pois o governo e até uma parcela do partido condenavam a postura ostensiva do líder. “O Henrique tinha que cumprir esse papel, defender a base”, justificou Raupp. O encontro dos dois senadores com Temer abriu as portas para Henrique encontrar-se com os ministros da Casa Civil, Antônio Palocci, e da Saúde, Alexandre Padilha. Palocci tratou de acalmar os ânimos: “Tudo vai se ajustar.”

No meio da semana, Palocci acertou um pacto de silêncio com o PMDB para evitar que as divergências ficassem expostas em praça pública, o que representaria prejuízo para todos. “Somos governo e temos que agir como governo, evitando conflitos. Política se faz conversando o tempo todo”, aconselhou o vice-presidente em despacho com líderes do PMDB. Mesmo assim, nos bastidores, a pressão seguiu intensa. O PMDB ainda reclama do que considera um magro quinhão conquistado pelo partido até agora. “A proporção do PMDB está pequena diante do tamanho do partido e da fidelidade ao governo”, diz Raupp. “O PMDB não deve ter mais que 5% dos cargos nacionais e ganha a fama de levar tudo.” Ao que parece, não é o que pensam o PT e os outros partidos aliados.

Por Hugo Marques - ISTOÉ

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