sábado, 29 de janeiro de 2011

Governador Eduardo Campos sugere lei garantindo meia-entrada para jornalistas; e "nóis"?


O governador Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco, enviou à Assembléia Legislativa do Estado um projeto inusitado.

Assinado na noite desta quinta (27), dá aos jornalistas pernambucanos o “direito” de pagar apenas meia-entrada nos eventos culturais.
Vale para teatros, cinemas e todo tipo de casas de espetáculo. Em texto levado à web, o governo esclarece: a ideia partiu do sindicato dos jornalistas.
Repetindo: o Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco pediu ao governo do Estado que enviasse à Assembléia projeto que institui privilégio aos jornalistas.
Ouça-se, por oportuno, a “jornalista” Cláudia Eloi, presidente do sindicato pernambucano:
“Não é uma questão de privilégio. A gente entende que o jornalista tem de ter acesso à informação”. Achou esquisito? Calma. Há mais.
O projeto encampado por Eduardo Campos anota: para usufruir do desconto de 50%, o jornalista terá de ser sindicalizado. Estranho? Calma. Há pior.
Só farão jus ao mimo os profissionais que estiverem em dia com a caixa registradora do sindicato.
Está-se diante de um espetáculo que vale a entrada com preço cheio. Repare: o sindicato pernambucano conta em 2.000 os seus filiados.
A grossa maioria –cerca de 1.500— dá de ombros para a entidade. Apenas 500 pagam as contribuições regularmente. Beleza.
A companheira Cláudia Eloi não consegue levar ao palco um desempenho capaz de animar o seu próprio público a pagar a mensalidade.
Para reverter o quadro de penúria que a rodeia, a mandachuva do sindicato quer tornar-se sócia de bilheterias alheias.
A jabuticaba pernambucana entra em cartaz numa hora em que arde no noticiário o caso das aposentadorias especiais de ex-governadores. Feliz coincidência.
Fica demonstrado que, uma vez que o privilégio é institucionalizado, a desfaçatez vira religião.
O governador Eduardo Campos faria melhor se enviasse à Assembléia uma proposta de reforma da Constituição estadual.
Faltando-lhe inspiração, pode recorrer ao historiador Capistrano de Abreu (1853-1927), um cearense ilustre que concluiu sua formação universitária no Recife.
Capistrano idealizou para o Brasil um projeto de Constituição simplificada que casa bem com a situação. A peça tinha dois escassos artigos:

- Artigo 1º: Todo brasileiro deve ter vergonha na cara.
- Artigo 2º: Revogam-se as disposições em contrário.

Nada mais vergonhoso do que o privilégio. Em condições normais, jornalistas fazem manchetes para aboli-los.
Não em Pernambuco. Ali, os jornalistas parecem dispostos a fazer uma revolução silenciosa por uma boquinha.
Vale a pena ouvir de novo a companheira Cláudia Eloi: “Não é uma questão de privilégio. A gente entende que o jornalista tem de ter acesso à informação”.

Josias de Sousa, da Folha

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