domingo, 26 de dezembro de 2010

Paulo Maluf fez doações a Tancredo Neves em 78 e 82

Tancredo Neves e Paulo Maluf se enfrentaram no colégio eleitoral que escolheu indiretamente o mineiro como primeiro presidente civil após a ditadura militar, em 1985. Três anos antes, porém, foi de Maluf que Tancredo recebeu uma doação para ajudar a bancar sua campanha a governador de Minas.

A história está no documentário "Tancredo - A Travessia", do cineasta Silvio Tendler. A Folha assistiu a uma cópia do filme, que está em fase de finalização e ainda sem data de lançamento.



A doação foi revelada pelo sobrinho de Tancredo e senador Francisco Dornelles (PP-RJ). Maluf, hoje deputado federal (PP-SP), confirma: "Dei-lhe uma ajuda dentro da lei". Ele diz ter doado também à campanha de Tancredo ao Senado em 1978. Dornelles diz que, em 1982, recorreram a Maluf após o tio relatar uma situação financeira "caótica".

Neto do presidente, o senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG) minimizou o caso à Folha: "Não sei se a empresa do Maluf deu alguma coisa, mas nada que tenha sido significativo". A Justiça Eleitoral afirma não guardar os registros da época.

Tendler, que dirigiu cinebiografias dos presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, diz não ter decidido se o episódio da doação deve entrar na versão final. Nega razões políticas para o eventual corte, mas alega que o filme está longo demais. Para ele, Maluf fez a doação a fim de derrotar o adversário de Tancredo na disputa estadual em Minas em 1982, Eliseu Resende, do mesmo partido de Maluf, o PDS. Resende era apoiado por Mário Andreazza, rival de Maluf na disputa pela sucessão ao presidente João Figueiredo.

"HAGIOGRAFIA"

A doação simboliza as fronteiras ideológicas difusas da política brasileira e o perfil de Tancredo, cuja extrema moderação lhe dava trânsito junto a todas as tendências. Em tom "hagiográfico", o filme retrata sempre de forma positiva o estilo conciliador de Tancredo.

A Folha apurou que houve autocensura na equipe de Tendler, para não incomodar a família Neves, evitando destaque a pontos polêmicos, como a costura de Tancredo junto ao regime militar para viabilizar sua candidatura indireta em plena campanha das Diretas-Já.

A produtora Lara Velho diz que Aécio "acompanhou muito proximamente" o filme e deu aprovação final, sempre com liberdade. O tucano nega interferências.

ANIVERSÁRIO

A ideia do filme veio em 2008, quando Aécio era pré-candidato à Presidência. O plano era exibir o documentário em 21 de abril, no aniversário da morte de Tancredo. Caso tivesse se candidatado ao Planalto neste ano, Aécio estaria em pré-campanha nesse momento. Aécio afirma que a decisão de não lançar o filme em ano eleitoral foi dele. "Seria visto como fazer como o Lula fez. Acho que macularia, mancharia", disse, em alusão a "Lula, o Filho do Brasil", de Fábio Barreto, de 2010.

O diretor nega que o documentário tenha intenções políticas. "Se o Aécio poderia ser candidato ou se usaria a biografia do avô como trampolim, não me passa pela cabeça. Meu problema é fazer um filme histórico."

O documentário, que também tem a produção da Intervídeo, de Roberto D'Avila, foi patrocinado pela EBX de Eike Batista e pela fabricante de cigarros Souza Cruz.

Da Folha de S. Paulo

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