A mãe de Manoel Mattos: Dona Nair Ávila e a Promotora de Itambé Rosimary Souto Maior |
SÃO PAULO - Há dois anos, Nair Ávila vive presa em seu apartamento em Recife. Só sai de casa para ir a Itambé, na Paraíba, onde assiste às audiências sobre a morte do filho, o advogado e ex-vereador Manoel Mattos, e para reuniões de grupos de direitos humanos. Só visita o túmulo do filho, assassinado por pistoleiros aos 40 anos, cercada pelos policiais.
- Quatro executores estão presos, mas os mandantes, não. Estou presa, e eles estão soltos. É uma dor tão grande, a gente criar o filho com zelo e ele ser morto. Pagaram R$ 2 mil pela vida dele - contou ela por telefone ao GLOBO.
Mattos era advogado de direitos humanos em Itambé, na divisa de Pernambuco com a Paraíba, onde foi vereador. Denunciou grupos de extermínio contra crianças, jovens supostamente infratores e minorias. Em janeiro de 2009, foi atacado dentro da casa de amigos, na praia de Pitimbu, na Paraíba.
O caso é tido como um dos mais emblemáticos pela Justiça Global, entidade que denuncia a situação dos defensores de direitos humanos a cortes internacionais, como a da Organização dos Estados Americanos. O advogado foi perseguido por mais de nove anos. A OEA recomendou ao Brasil que desse a Mattos segurança federal. Ele foi acompanhado por policiais federais por um ano e meio e morto depois que a PF deixou de protegê-lo.
Nair, de 68 anos, obteve proteção estadual há dois anos. O crime contra seu filho, no entanto, foi federalizado. É o primeiro caso no país em que um homicídio de defensor de direitos humanos é tratado pela Justiça Federal. O julgamento ainda não ocorreu. Nair entrou na militância dos direitos humanos depois que o filho morreu e acompanhou as mortes no Pará.
- Mandaram um bilhete para o meu filho dizendo o dia e hora em que iam me matar. Isso não aconteceu. Quando mataram o meu filho, mataram a mim também.
Os casos de Nair e de Mattos estão na lista do relatório sobre ameaças a defensores dos direitos humanos produzido pela Justiça Global. Nele consta o caso da promotora Rosemary Souto Maior, que investigou a morte de Mattos e os crimes de extermínio em Pernambuco e também foi jurada de morte na região.
Fonte: Oglobo
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